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Sem pressa. Devagar é mais gostoso.


Foto: Kurô

Sexta passada rolou a Massa Crítica de Março. Muito falou-se sobre os episódios de violência, pelo menos 3 que eu vi. Em um deles, quando um motorista acelerou o carro sobre um amigo, acertando-o em cheio, vi um senhor explodir de raiva. Caminhando e curtindo a noite ele não conteve-se ao ver a cena bizarra e não pensou duas vezes: Encheu de socos o carro do idiota, deixando-o totalmente constragido ao lado de sua mulher que não sabia onde enfiar a cara literalmente. Algumas flores foram colocadas sobre o capô e saímos dali. Sempre sou contra qualquer tipo de violência, e me sinto mal quando vejo a galera hostilizando motoristas, pedestres, pessoas nos bares, enfim… No entanto, depois de muitas conversas e pontos de vista distintos sobre os episódios, refleti um pouco e percebi algumas coisas com mais clareza.

Primeiro ponto, bicicletas tem preferência no trânsito, principalmente uma massa onde existem adultos, senhores e crianças celebrando o convívio, e se um motorista sente-se na razão de atravessar essa Massa com algumas toneladas de “lata”, o inconsequente é ele e não nós. Imagine se ao invés de bicicletas fossem carros à sua frente, ele iria espumar, mas não iria sair do lugar. O que o leva a atravessar a Massa é sua truculência, brutalidade, falta de sensibilidade, ou quase sempre seu suposto psico-endosso legal: Lugar de bicicleta não é na rua! É no parque! Na calçada! E já que é assim eu posso passar por cima.

Segundo ponto, a Massa Crítica é uma coincidência desorganizada, e é isso que faz dela tão singular, ela representa exatamente o que é São Paulo e principalmente o trânsito da cidade: Briga por espaço, quem pode mais, chora menos. Não podemos crer que todos tenham as mesmas idéias, alguns nem ao mesmo sabem porque estão ali, essa é que é a real. Várias vezes ouço perguntas sobre o que está acontecendo, porque rolam os corkings…

Terceiro ponto, todos podem tudo. E isso é bom, muito bom. Significa que podemos propor idéias, fazer coisas, produzir material, distribuir, conversar com motoristas, pedestres, postes, pontes, cachorros, conscientizar, ou não.

A galera curte muito mais a celebração do que a violência e isso é muito claro, basta ver o quanto as brigas da sexta geraram discussões, algumas acaloradas até. Duvido que alguém defenda o uso da violência, que a ache legítima. Passei a perceber estes eventos como brigas de trânsito, disputa por espaço, com o agravante de estarmos em um número infinitamente maior, o que encoraja alguns a acharem que estão em um filme de gangue. Normal.
O “cerumano” é assim.

Vamo que vamo! Celebrar o convívio, a retomada do espaço público, produzir, realizar! E nunca esquecer de agradecer, certo?

Só ouvindo mesmo. Absurdo!

É isso. Eu moro em São Paulo, eu sinto o que é viver em São Paulo. A capital dominada pelo capital. A chuva ácida que nos queima a alma, o asfalto quente que gela nossos corações, os olhares atravessados, desconfiados, de quem está prestes a explodir. Ao ver a foto e ler esse post, me senti na obrigação de replicá-lo:

Por Leandro Fortes

Muito ainda se falará dessa foto de Clayton de Souza, da Agência Estado, por tudo que ela significa e dignifica, apesar do imenso paradoxo que encerra. A insolvência moral da política paulista gerou esse instantâneo estupendo, repleto de um simbolismo extremamente caro à natureza humana, cheio de amor e dor. Este professor que carrega o PM ferido é um quadro da arte absurda em que se transformou um governo sustentado artificialmente pela mídia e por coronéis do capital. É um mural multifacetado de significados, tudo resumido numa imagem inesquecível eternizada por um fotojornalista num momento solitário de glória. Ao desprezar o movimento grevista dos professores, ao debochar dos movimentos sociais e autorizar sua polícia a descer o cacete no corpo docente, José Serra conseguiu produzir, ao mesmo tempo, uma obra prima fotográfica, uma elegia à solidariedade humana e uma peça de campanha para Dilma Rousseff.

Inesquecível, Serra, inesquecível.

Atualizando. Já que o post deu tanto pano pra manga, seguem os demais posts no blog do Leandro Fortes, tire suas conclusões:

O mundo bizarro de José Serra 2, a Gestapo

O mundo bizarro de José Serra 3, a Passagem

O mundo bizarro de José Serra 4, Il Dolce

E toma! Que tem mais, lá do Vi o mundo:

PM embarcou em Osasco no ônibus dos professores; é um P2

Arte: Marcelo Siqueira.

Quem vai, vamo… Sexta 26, Paulista com a Consolação. Ao cair da noite.

O autor

Valdinei Calvento - ilustrador.

Gente boa, tranquilão, bom pai, anda de bicicleta (e acredita nela), curte desenhar, plantar umas sementinhas, acredita em algumas pessoas, luta por elas, e sempre que possível, corre de São Paulo.

Bicicleta Girassol é o meu portifólio.

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